Caminhar pelo Vale Sagrado dos Incas é ao mesmo tempo desolador e arrebatador. Ver a força, o empenho de uma civilização que foi tão tragicamente extinta é inenarrável. Aprender sobre os incasé aprender um pouco sobre nós memos, sobre a nossa derrocada moral, nossa perda total e gradual de valores... Quando perguntei ao guia (um descendente direto dos incas) a respeito das teorias sobre Machu Picchu e outras ruínas serem obras de seres extra-terrenos, ele me respondeu:
- "És verdad! Solo se han equivocado con el orden de las palavras, han sido hechas por terrenos-extras, los incas."
Durante a viagem, a cena final do filme "Diários de Motocicleta" não me saía da cabeça... "Cuanta injusticia, hermano"....
O Peru é isso: a tradução visual do subdesenvolvimento e dos constrangimentos históricos e sociais que pulsam pelas "veias abertas" da América Latina; as ruínas incas virando favelas, as mulheres levando seus filhos amarrados às costas, bicicletas e táxis aos milhares buzinando a cada segundo e transformando as ruas em um verdadeiro caos... gente muita honrada e trabalhadora... casebres perdidos no meio das Cordilheiras, onde convivem pessoas, cães, ovelhas, llamas e alpacas, sobrevivendo apenas com o que a Pachamama (Mãe-Terra) lhes oferece.
Para olhos acostumados à realidade brasileira, por mais precária que seja, a idéia é a de ser tragado subitamente para outro tempo, outro lugar... A miséria extrema dos descendentes indígenas se mescla à riqueza dos brancos, o artesanato à arquitetura dos colonizadores, as milhares de cores espalhadas por todos os lugares.... quase um escárnio, mas também um deleite.
Cruzar as Cordilheiras de carro acentua ainda mais a idéia de atemporalidade. A imagem é ao mesmo tempo desoladora e de uma beleza indizível. Não como a beleza que há em toda tragédia, mas como a beleza que só há ali, a de transformar a tragédia em força...
_-_ ingrid cano_-_